Na rua
De vez enquando, encontro com ele na rua, passa com o vidro da janela do carro abaixado e olha para mim. Não diminui a velocidade, nem sorri, não diz boa-noite.. Mas ele me olha fixamente nos olhos, instante que me soa eternidade. Quando ele está do meu lado, ao passar, ele faz um sinal com a cabeça, um cumprimento silencioso e íntimo que me deixa sem voz. Aí, segue a sua trajetória, e me deixa sozinha na rua escura. Atônita, só me recupero ao entrar em casa e deparar com a clara realidade. Sei que esse olhar diz mais que palavras; um animal a espreita de sua vítima. Sei também, que esse carro é a segurança dele e o que nos separa. É incrível saber que essa caça persiste há anos. Sei também que o que nos impede são duas leis que regem a sociedade. Mas, não sei como vai ser o futuro, e muito menos como serão nossos próximos encontros, ele no carro e eu na rua.