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Mostrando postagens de outubro, 2011

Na rua

De vez enquando, encontro com ele na rua, passa com o vidro da janela do carro abaixado e olha para mim. Não diminui a velocidade, nem sorri, não diz boa-noite.. Mas ele me olha fixamente nos olhos, instante que me soa eternidade. Quando ele está do meu lado, ao passar, ele faz um sinal com a cabeça, um cumprimento silencioso e íntimo que me deixa sem voz. Aí, segue a sua trajetória, e me deixa sozinha na rua escura. Atônita, só me recupero ao entrar em casa e deparar com a clara realidade. Sei que esse olhar diz mais que palavras; um animal a espreita de sua vítima. Sei também, que esse carro é a segurança dele e o que nos separa. É incrível saber que essa caça persiste há anos. Sei também que o que nos impede são duas leis que regem a sociedade. Mas, não sei como vai ser o futuro, e muito menos como serão nossos próximos encontros, ele no carro e eu na rua.

Ás

Há duas gemas negras que em mim comandam uma inquietude fria. Um domínio sem misericórdia, incansável, incoerente, de puro capricho. Ignoram os gritos de súplica e rendição. Elas querem o sangue, a vida, a essência; Querem o consumo completo, nada de perdas. Apenas um ego satisfeito, narcisista.

Lembranças

Recordo sempre das noites de frio, que encolhida na cama eu observava  a chuva caindo através das frestas nas tábuas das paredes, clareadas pelos relâmpagos das tempestades. Das manhãs em que fui despertada pelos estalos da madeira no fogão de lenha, que preparavam o café e coziam o feijão. Dos sagrados domingos, em que depois da missa, o frango caipira e a macarronada esperavam para o almoço em família. Das manhãs de Natal e do forno a lenha, onde era assada a leitoa de coro muito crocante. Como esquecer o poço a manivela, de onde tirávamos muitos litros d'água para beber e realizar todos os afazeres domésticos e de higiene pessoal. Minha meninice foi clareada por lampião a gás, enquanto minha mãe passava roupa com ferro em brasa e meu pai contava histórias para os irmãos no chão da cozinha. São lembranças que a modernidade não apaga, e que vivem acordadas na memória e sorriem para mim, como naquelas noites de 30 anos atrás.